plácido

era do alto o outro
vento que lhe vinha o sonho
insólito em desespero plácido
o vinho abandonado à cabeceira
poeirenta a manhã cansada
não da vida do dia mesmo o sopro
gotejando orvalho encaracolados
cabelos claros como olhos ao vento
a imagem que parte em parte
se deixa enraíza na alma a unha
na pele a língua do murmúrio frêmito
azulado como pérola única no alto
o outro vento, sim, o sonho

(scs, 23712)

sem título

não lembro bem se era tarde ou
abril
a manhã fugia lentamente de mim
e escorriam os minutos eternos
sem necessidade de se explicarem orgulhosos

na escuridão que aquele sol tardio fazia
eu ouvia que o silêncio era como um cântico
mudo
escondido por entre brisas e a poeira
das lembranças esquecidas por todo lado

preferi morrer logo depois de
acordar
assustado no meio da noite sem entender
quem era aquele que tão loucamente
sonhava em mim

(c, 151213)

sono

era tranqüilo o sono embalado de silêncios
no calor tênue daquela manhã sem esperanças

revia tantas lembranças escondidas nas pálpebras
e fazia maior seu desejo de voar sem fim

os sonhos se desfaziam em outros sonhos
tingidos das cores todas de seu coração nômade

acima das nuvens no profundo abismo em ilhas distantes
não era ninguém e era apenas tudo que não via

era feliz o sono enfeitado de sussurros
nos corredores inexistentes de tantos mundos

não queria acordar não sabia mais sofrer
inexistia em tantos/nenhum lugar – vivia

a mão fria o sorriso inerte os olhos
que viam muito mais

fechados