escuto
estranhos
silêncios
poemas
rasurando
(uni)versos
253
sou
meu
último
túmulo
sem
tumulto
mais
preciso poetar mais
a vida anda muito engasgada
na ponta da pena
anseios e assombros
não se entregam se não
sangrarem tinta
muitas paisagens se perdem só nos olhos
os sonhos desneblinam-se ao amanhecer
– o mundo é menor que as sílabas! –
só o poema pode guardá-los
vivos e tenros (eternos?)
diagnóstico
tenho frio crônico
nos ossos
tenho dor crônica
no corpo
tenho saudade crônica
na alma
tenho poesia crônica
no olhar
sem título
sem título
o que era de fato
nem mesmo pensamos
no entanto sim estava
e por isso tão solene
como a noite e uma
gota de sangue ou lágrima
de toque macio e não
tão simples sendo assim
que surpresa já sempre
um anelo não uma ausência
de poucas cores mas doçuras
nem haveria em nenhum canto
o aroma de que fizemos
o outro sonho da alegria difusa
bem de manhã sem lençóis
piso frio caminha tonto
e florejam liláses a nuvem
miúda nos diz o Nome e
lembramos nada somos
só desejos e saudade
(sp, 25813)
sem título
minha poesia
é
meu caos
dentro
de mim
dele
um leãozinho demais
patinando na neve
e mostrando a língua.
não é poesia,
mas foi meu neto quem disse.
então é.
sem título
De onde sentado, no ônibus, observo
a paisagem no fim da tarde
é de rostos cansados
inóspitos
imensas solidões e
eternas amizades
lista de por-fazer
angustiosa volta ao lar
de ônibus e seus estranhos
ruídos de motores e suspiros
sono encostado no vidro
a longa despedida para tão-breve
placas luzes grafites cores muros gatos náusea
vinda de desabafos à luz miúda
de pequenas imoralidades
o outro ser fingido real na tela do celular
um estranho lá fora – e outro aqui dentro
com a pressa de cerrar portas
sombras frias esgueirando-se nas esquinas
em pés descalços preguiçosos
o copo de esquecer-se
e a criança quer continuar brincando
(foto de Corinne Béguin)