parece sobrar só a angústia
entre a areia e as flores
nada novo vem e nada sopra
o hálito de vida ou de alento
então, sobra somente a dor
e não há mais amplidão
só o aperto estreito do abraço frio
insone, amassado, noturno
e ainda hoje sobra tão-só um desejo
um anseio morto no peito
não-nascido, lamúria silente
andando trôpego ao luar
e outra vez sobra só a solidão
do caminho nos campos
os pés orvalhados e a grama morta
no silêncio profundo sem horizonte
e por ora o que sobra é anseio
na viagem surda entre nuvens e
pedras agudas que ferem
e o sangue verte e marca
as sobras de cada sempre
das manhãs que não chegam
das noites que não findam
e não mais folhas secas
emoldurando campos floridos
mas a sobra, nada mais
somente a sobra