De onde sentado, no ônibus, observo

ônibus

a paisagem no fim da tarde
é de rostos cansados
inóspitos
imensas solidões e
eternas amizades
lista de por-fazer
angustiosa volta ao lar
de ônibus e seus estranhos
ruídos de motores e suspiros
sono encostado no vidro
a longa despedida para tão-breve
placas luzes grafites cores muros gatos náusea
vinda de desabafos à luz miúda
de pequenas imoralidades
o outro ser fingido real na tela do celular
um estranho lá fora – e outro aqui dentro
com a pressa de cerrar portas
sombras frias esgueirando-se nas esquinas
em pés descalços preguiçosos
o copo de esquecer-se

e a criança quer continuar brincando

(foto de Corinne Béguin)