O vento agitava as folhas com tamanha ternura que elas coravam de vergonha.
contículo 28
Depois de tantos anos, sua infância já lhe pesava sobre os ombros.
contículo 27
De tanto contar mentiras, o homem passou a desconfiar que não existia.
contículo 26
Ao tocar na mão dele sentiu-se tão feliz que até esqueceu que não era feliz antes.
a folha
a folha que cai
da árvore
queria nunca tocar
o chão
se misturar
à terra
se tornar húmus
e nunca mais ser
a folha
contículo 25
Entrou no elevador tão absorto em seus pensamentos que ninguém nunca mais o viu.
tríade 12
ao sono entrego
os últimos sonhos:
o dia vem.
tríade 11
menina, vamos embora!
terminou o tempo
de ser feliz!
acenamos-lhe
nós víamos o barco se afastar
e os acenos e os apitos
se misturando se ensurdecendo
a cabeça triste sumia
entre tantas igualmente ou felizes
e terminava a vida
no cair da tarde
– e nunca mais
(scs, 16612)
manhã
naquela manhã sepultada
mentiu ao bom-dia:
não quis viver
mentiu de novo
sobre o medo
de ser outro
não conseguia ver
seu olhar sereno
nem a chuva
(scs, 16612)