uma madrugada
morna
vive em mim
192
meus
sonhos:
aspiração
boca
a
boca
mim
sou
só
1
(im)preciso
ser
assim
nós
2
solidões
lado
a
lado
acordo
às
3:
sou
ainda
mesmo?
de
4
procuro
respostas
(in)existentes:
[eu?]
os
5
dedos
apalpam
minha
inexistência
corro
para
alcançar-me
antes
de
vo6
escolho
7
livros
(d)escrevendo
quem
sou
alguém
af8
pelo
encontro
comigo
– serei?
vida,
re9-me!
o
espelho
diz:
igualainda
10esperado
tateio
meu
rosto:
quem
és?
sino
de
br11
informa:
durma
desesperada’mente
minha
over12
de
perguntas
silencia
urrando
temo
13
badaladas
inquirindo
de
mim
caminho
por
14
q-u-a-d-r-a-s
fugindo
tr.ôp.ego
na
15a.
desisto:
sempre
soufuiseria
eu
tive
16
u,m
dia
… bruta
saudade
pouco
vivi
os
17
tentando
ser-não-ser
ind…epend…entes
18
em
mim
prisões
infant~adultas
impreciso
aos
19
preciso
saber-me:
quem?
20
dizer:
sim –
sou
eu
assim
191t
meus
medos
mudam
meu
mundo
mudo
190t
preciso
partir
partir-me
precisar-te
perceber-te
parecer-me
olhos nos
1
abrem-se
convictos
da
manhã
que
surge
2
vagueiam
cheios
de
respostas
sem
perguntas
3
olho
e
vejo-te
olhas-me:
não
sei
4
olhos
nus
olhos
nos
olhos
nós
5
na
janela
que
me
vê
vejo-me
6
te
vejo
em
meus
olhos
tristes
5
mergulho
em
teus
olhos:
afogo-me
águazul
6
e
tão
tonto
tento
então
rever-me
7
olhares
que
fogem
maltratados
de
abandono
8
os
OlhOs
Olho-Os
vazi0s
num
s.i.l.ê.n.c.i.o
9
insisto:
olhe-me
como
outro
que(m)
sou(?)
10
(temo
olhar
e
de[ver]
te
amar)
11
“nunca
vi
ninguém
assim!”
ah,
sim…
12
– vi-me:
a
dor
ampla,
nunca
vista
13
antevejo
meus
olhos:
lágrimas
e
ninguém –
14
olha-me
com
outros
olhos:
os
teus
15
meus
olhos
leais
lamentam:
não
mais
16
vejo-te
como
nunca
– e
sempre
foste
17
vemos
o
que
vi(fo)mos:
foi-se
insaudoso
18
vemo-nos
como
de
novo
primeira
vez
19
invisível
ah!
mar
de
amor
– olhares
20
cúmplices
mãos
dadas
vamos
vemos
somos
Aldravipeia e tautograma
A poesia é desassossegada, inquieta, bicho feroz, que olha com desconfiança para limites, prisões. Ama inovação, refazer-se, repensar-se, propor-se formas para, então, desafiá-las, enfrentá-las, empurrá-las para que adotem outra forma.
Sabedora disso, criada por Andreia Donadon Leal e com argumento teórico de J. B. Donadon-Leal, a Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas, da qual eles são os fundadores e este escriba é associado, lançou dia 17 de setembro de 2013 uma nova forma poética: a aldravipeia. Trata-se de um poema temático constituído por 20 aldravias, todas dedicados a um único tema ou a uma única palavra. Pra entender melhor a proposta, clique aqui.
Achei maravilhosa a proposta da aldravipeia! Amplia a aldravia e também desafia o poeta a poetar de seis em seis até produzir uma sinfonia de vinte movimentos aldrávicos coerentes, interligados pelo fio temático, mensageiros sextavados da mensagem única. O próximo post (detesto essa palavra inglesa, mas não achei ainda uma substituta nacional. Acho que vou inventar uma.) trará minha primeira aldravipeia.
E falando de outras formas poéticas, recentemente descobri duas delas. A primeira é o tautograma, forma poética em que todas as palavras do poema têm a mesma inicial. Estou experimentando umas cruzas de aldravia com tautograma. O resultado vem a seguir.
É isso. Experimentar novas formas de dizer o mundo.
Abraço.
Sabe?
Sabe aquele dia em que você acorda com vontade de dormir?
Em que o Sol parece tão quente e desanimador?
Dia em que um banho frio é tão gostoso como chá de boldo sem açúcar?
Em que os passarinhos cantam tão bonito e desafinados e atrasados?
Em que seu mau hálito ofende até o cara do espelho?
Dia em que os chinelos desaparecem?
Dia em que o despertador parece um serial killer?
Em que a remela SuperBonder acorda mais cedo que você?
Em que a vizinha de cima dormiu de salto-agulha e roncou?
Em que o travesseiro lembra colo de mamãe?
Em que um iceberg passou a noite em seu quarto?
Dia em que um suicídio seria terapêutico?
Em que tudo é sem sentido leste-oeste?
Em que o outro lado da cama é tão imenso quanto o Saara?
Dia em que os lençóis donzela-de-ferro são boa companhia?
Em que sua música preferida provoca náuseas e cólica?
Dia em que se pensa se não teria sido melhor… ou…?
Em que um sorriso é um convite pra uma luta de rolar no chão?
Em que os monstros embaixo da cama são de pelúcia?
Pois é.
Meu dia não acordou assim.
Há dias.
(scs, 10913)
Toda a obra poética de Fernando Pessoa para download
O portal Domínio Público disponibiliza para download a poesia completa de Fernando Pessoa. Embora sem uma ordem cronológica adequada e com edições repetidas, o acervo contempla toda a obra conhecida do poeta português. Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, em junho de 1888, e morreu em novembro de 1935, na mesma cidade. É considerado, ao lado de Luís de Camões, o maior poeta da língua portuguesa e um dos maiores da literatura universal.
Seus poemas mais conhecidos foram assinados pelos heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, além de um semi-heterônimo, Bernardo Soares, que seria o próprio Pessoa, um ajudante de guarda-livros da cidade de Lisboa e autor do “Livro do Desassossego”, uma das obras fundadoras da ficção portuguesa no século 20. Além de exímio poeta, Fernando Pessoa foi um grande criador de personagens. Mais do que meros pseudônimos, seus heterônimos foram personagens completos, com biografias próprias e estilos literários díspares.
Álvaro de Campos, por exemplo, era um engenheiro português com educação inglesa e com forte influência do simbolismo e futurismo. Ricardo Reis era um médico defensor da monarquia e com grande interesse pela cultura latina. Alberto Caeiro, embora com pouca educação formal e uma posição anti-intelectualista (cursou apenas o primário), é considerado um mestre. Com uma linguagem direta e com a naturalidade do discurso oral, é o mais profícuo entre os heterônimos. São seus “O Guardador de Rebanhos”, “O Pastor Amoroso” e os “Poemas Inconjuntos”. O crítico literário Harold Bloom afirmou que a obra de Fernando Pessoa é o legado da língua portuguesa ao mundo.
Clique no link para acessar: Toda a obra poética de Fernando Pessoa para download
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sempre
que
te(me)
procuro
me(te)
des(re)encontro