sementes

Havia necessidade
de que cada palavra fosse dita uma só vez
e que seu poder de semente, então,
se plantasse no coração
e germinasse como consolo à saudade
e como abraço sem vontade
ou como sorriso ao fim da tarde.

E no limiar do dia,
antes da neblina e do sono,
antes do adeus, do sem-poesia,
a flor se fechasse pudica, como outono,
aguardando a aurora, o orvalho, o despertar
para falar de novo
ecoar

o consolo
o abraço
o sorriso
a ternura
o colo
o afago
o lento desespero de querer
ser feliz

(scs,31811)