no corpo que agora tenho
tenho um cansaço sem fim
sem dor
sem prazer ou esperança
os dias se arrastam
a vida não passa
o sono
de todo tempo aqui
faz o desejo de paz
se agigantar, carência
tamanha
esgota as forças e os sonhos
no tempo de meu cansaço
sinto o sangue escorrer
vermelho
pelos poros e gotejar
sem pressa e sem pudor
aumentando o cansaço
falta de (l)ar
falta de razão pra continuar
cansado de ser, de ver,
de lançar os olhos à maré
crescente
as mãos descaídas escorrem
em direção à cova
ao húmus molhado
orvalho
repouso final por enquanto
o corpo na terra, na relva
olhar vazio de gozo
só nuvens
a mudar de lugar e sabor
e o mundo passa, vaga,
o corpo repousa sem dor
imóvel
o corpo e o húmus são o mesmo
o nada, o não-mais
nenhum fôlego ou lágrima
lamúria
despede-se da ausência e não é
ao final, o cansaço se vai
inexiste em suas entranhas
ser vazio
um corpo sem mais morador
(salvador, 9129)