mistério no galho de árvore
que murmura uma canção sem voz
na tarde sem vento
e faz a menina de vestido branco
chorar
à árvore que não sorria
como se nunca houvesse primavera
se nada além do fim de tarde
ocaso cinza
de nuvens indiferentes
sem vento nem pássaros
e nas folhas
as lágrimas da chuva
a tristeza que não era dela,
mas ela a carregava
e sentia
por isso, não sorria
e só
– o tempo passa sem pena
a folha
a folha que cai
da árvore
queria nunca tocar
o chão
se misturar
à terra
se tornar húmus
e nunca mais ser
a folha
estrada e raízes
então, ele desistiu de caminhar.
e parou ali, à beira da estrada,
até criar raízes.
seus galhos cresceram,
as folhas enverdeceram à tarde,
pássaros e ninhos;
a chuva lhe refrescava a alma,
o vento trazia aromas e melodias
e as raízes cresciam e cresciam.
então, ele desistiu de ser árvore
e voltou a caminhar.
deixou a beira da estrada
e se fez de novo errante.
(sp, 16112)