as brumas
afogam lembranças
brancas sem afago
desabrochadas de dor
loucas
as brumas
repetem canções afônicas
numa gentileza vaga
na manhã invisível
adoentada
as brumas
resistem à verdade
com máscaras dóceis
entalhadas em peles
pálidas
as brumas
desenham no chão
sombras sem alma
de sonhos e sons
abafados
as brumas
escondem seu rosto
sem riso ou tormento
despertado de amor
inconsolado
as brumas
balançam cabelos e saias
silvando ameaças
sem citar nomes
inesquecíveis
as bruams
enfurecem pombos e muros
com seu frio átono
sopro no vento
incolor
as brumas
recusam o abraço
ao desvalido à espera
do ônibus
insensíveis
as brumas
ocultam tantos segredos
remexendo caixas
e mansões
arruinadas
as brumas
entranham-se nas casas
madrugando à lareira
espiando velhas nudezes
imortais
as brumas
convalescem à mesa
repartindo as migalhas
ao cão e à mulher
catatônica
as brumas
impressionam as aves
atarefadas em ninhos
como no outono
moribundo
as brumas
mentem com rouquidão
sua bondade imensa
na faca com sangue
viscoso
as brumas
umedecem a calçada
e maltratam o cão
sem dono e a dona
maquiada
as brumas
calam os sussurros
de prazer e lençóis
esfriam amores
entrecortadas
as brumas
fofocam-se à toa
e não têm pudor
nem remorso
impedernidas
as brumas
arrastam correntes
medrosas e altivas
eis, pois, seu fim:
sol