Colégio Cruzeiro do Sul

foto03_colegio_francisco

corredores,
sino,
professores,
menino,
aluno
por vezes taciturno,
amores,
imenso prédio,
de corredores estreitos,
segredos,
esqueleto,
andares,
andava eu sonhando,
brincando,
buscando saber o que era.

paixões,
cadernos provas laboratório recreio
amizades eternas, tão finitas
e tanto tempo naquelas salas
e em tantas salas tantos
que hoje por aí seguem
e não são mais, só ex-colegas
(sem falar dos que (se) foram)

e o prédio é só lembrança
do tempo aquele
todo ele.

sino
na há mais o menino

(poa, 301012)

das conseqüências da felicidade

não dormia mais
ou, se dormia,
não mais sabia
se sonhava ou
se o via

nem se cansava
de esperar na janela
o tempo que demorava
para ele aparecer
e, quando vinha,
o tempo não demorara tanto
e passava tão rápido
que nem parecia ter vindo

não precisava mais respirar
– pensava ela –,
só sentindo, à luz da janela
o perfume dele no ar:
doce cítrico ingênuo só dele,
com um sorriso maior
que o rosto
– e por nada mais tinha gosto

não se sentia mais só,
nem no final da tarde
nem ao visitar a avó,
sabia sentia que ele estava por ali
naquele ventinho suave a balançar a cortina
na voz que a fazia mulher-ainda-menina
no olhar que no coração sorria

– e ele nunca soube que ela existia.

(scs, 301212)

despedida

nenhuma outra angústia
em teu olhar
jamais foi tão terna e suave
como a do dia de cabelos ao vento,
imersos em solidão
pensávamos em outro tempo:

uma nova brisa quando no começo
a saudade inexistiu
e os desenhos no ar eram tão pequenos.
eu e tu,
imersos no desconsolo,
fervorosamente inertes, e o chá
esfriava;

mesmo assim sentíamos a mesma dor
estranha, na pele, na íris –
e já era lembrança
na neve, nas folhas secas,
em tuas pegadas sobre as pedras.
a luz se refletia nos meus olhos cerrados,
espalhando um aroma que
outro dia esteve em nossa pele
e naquela flor à luz de velas.

agora só há essa indefinida presença
de um nada afável,
e, então, de novo,
a despedida.

(scs, 9512)

brumas

as brumas
afogam lembranças
brancas sem afago
desabrochadas de dor
loucas

as brumas
repetem canções afônicas
numa gentileza vaga
na manhã invisível
adoentada

as brumas
resistem à verdade
com máscaras dóceis
entalhadas em peles
pálidas

as brumas
desenham no chão
sombras sem alma
de sonhos e sons
abafados

as brumas
escondem seu rosto
sem riso ou tormento
despertado de amor
inconsolado

as brumas
balançam cabelos e saias
silvando ameaças
sem citar nomes
inesquecíveis

as bruams
enfurecem pombos e muros
com seu frio átono
sopro no vento
incolor

as brumas
recusam o abraço
ao desvalido à espera
do ônibus
insensíveis

as brumas
ocultam tantos segredos
remexendo caixas
e mansões
arruinadas

as brumas
entranham-se nas casas
madrugando à lareira
espiando velhas nudezes
imortais

as brumas
convalescem à mesa
repartindo as migalhas
ao cão e à mulher
catatônica

as brumas
impressionam as aves
atarefadas em ninhos
como no outono
moribundo

as brumas
mentem com rouquidão
sua bondade imensa
na faca com sangue
viscoso

as brumas
umedecem a calçada
e maltratam o cão
sem dono e a dona
maquiada

as brumas
calam os sussurros
de prazer e lençóis
esfriam amores
entrecortadas

as brumas
fofocam-se à toa
e não têm pudor
nem remorso
impedernidas

as brumas
arrastam correntes
medrosas e altivas
eis, pois, seu fim:
sol