não deixa
de ouvir
a poesia
em meu silêncio
este que sussurro
tão tolamente
em teus sonhos
(scs.sd)
A palavra é tanta que faz a alma ser muitas
não deixa
de ouvir
a poesia
em meu silêncio
este que sussurro
tão tolamente
em teus sonhos
(scs.sd)
você é tantos sons confusos ao redor de tudo
de manhã ainda ontem sem mesmo acordar
e vem outro sem trégua torrente furiosa
como se não me fosse possível respirar ou ser
querendo minha atenção inquieta nesse mundo tanto
eu sem estar aqui quase uma tentativa vã
sem desistência ou respeito não-ouvido
destrói o que eu pensava pensar mesmo querer
os sons sim os sons confusos confusos sons confusos são
e tudo você é você é isso que minha mente
atormenta um precipício esse mortal de enganosa paisagem bela ao redor
se convencido há o salto e é isso o que não desejo de covarde ou não
mas sei que almejo ainda hoje aquela manhã que jamais tenho
não preciso temer o grande acima de mim um mistério de dores
mergulhadas na superfície de murmúrios indistintos em passados não-sepultados
e os sons confusos gritam roucos pelas planícies que se confundem no horizonte
uns riscos no chão de dramas recentes por dores arcaicas
se misturam ao sangue e à poeira nos pés
trilhando um caminho abandonado outra vida iniciada em rompante
no momento único do beijo o aceno raios e chuva tão pesada
tormentos não dores antigas e você como eu
instantes perdidos na busca tola busca de aléns e calmarias
no entanto a flor não desabrocha rouba o brilho ao sol
guardo os olhos nas pálpebras de desolação
de rever os sons confusos o vento é forte e morno
enquanto seca-se a folha o desalento é tanto que nem
e nunca mais isso mesmo fluindo do âmago
em pleno amargor de tudo o que teria sido
teu recomeço em silêncio o completo momento
de antes você e ainda eu e nada mais
(scs, 18315)
tua ternura crassa
me perfuma
teu sussurro frondoso
me intensifica
teu aceno ínfimo
me resolve
teu olhar boreal
me vasculha
teu conselho inaudito
me assegura
teus passos epidérmicos
nos assumem
teu conflito incolor
me espelha
teu relevo inverso
me desconcerta
teu convite enfermo
me imagina
teu sorriso caudaloso
me acalenta
teu pensamento translúcido
me germina
teu segredo ensurdecedor
me desmorona
tua inocência rígida
me transtorna
teu abraço oceânico
me embala
tua alvura ambígua
me comove
tua sombra noturna
me abriga
tua fadiga majestosa
me seduz
tua humildade imponente
me renasce
teu aroma transcrito
me ignora
tua solidão inacabada
me completa
tua visão absorta
me convulsiona
teus suspiros alarmados
me fazem companhia
desenhei um silêncio tão grande
que mal coube na palma do papel
escorreu entre os dedos
e pingou no ar
manchando a nuvem que passava
grávida de chuvas
agora, ela chora rostos sem sorrisos
(scs, 19516)
contudo
eis aí você, tão única,
como se fôssemos ainda os mesmos
e não só
outros
(scs, sd)
outros tantos são
os sabores dessa ausência
os mesmos sonhos nos
visitam desde a infância
nem sempre lembramos do
que fomos, à distância
sabemos, tão tolos,
dos risos da demência
querendo de volta, logo,
cada parte de nossa substância
para sempre perdida
na alegre inexistência
(scs, 61216)
de
sono
adormeci
acordado
me
arrependi
sou a soma
de mim
e mais nada