Ouço apenas
o silêncio
de ouvidos mudos
da boca surda
ao desabrigo do lamento
à solidão da dor.
(scs, 41110)
A palavra é tanta que faz a alma ser muitas
Ouço apenas
o silêncio
de ouvidos mudos
da boca surda
ao desabrigo do lamento
à solidão da dor.
(scs, 41110)
não sei onde vi a respeito de mim
em que livro, folha, pedra ou marfim
havia lá desse eu um retrato
sem cor nem forma, nem um acato
a descrição era imprecisa
mas detalhada e mui concisa
os olhos baços que me fitavam
se escondiam de dor e choravam
pareceu-me também ouvir vozes
como flechas de fogo velozes
luzindo à noite e incendiando
os campos, os meus sonhos matando
e de novo vejo a antiga imagem
refletida em pó e serragem
não sou eu! quem estará, quem, ali
me sondando? quem será que me vi?
(scs, 17210)
a criança se olha no espelho
e se vê adulta
no mundo de depois:
deveres, salário, contas,
voto, despertador, hospital,
decisões, atas, encanador,
promoção, tese, fumaça,
engarrafamento, dilema, solidão.
a criança quebra o espelho
e vai brincar lá fora.
(mc, 2599)
Este poema foi um dos vencedores do concurso Poemas no ônibus, da Prefeitura de Porto Alegre. Veja aqui.
Em breve, atualizo as informações e lanço um concurso pros leitores.