vida (walt whitman)

Sempre a indesencorajada alma do homem
resoluta indo à luta.
(Os contingentes anteriores falharam?
Pois mandaremos novos contingentes
e outros mais novos.)
Sempre o cerrado mistério
de todas as idades deste mundo
antigas ou recentes;
sempre os ávidos olhos, hurras, palmas
de boas-vindas, o ruidoso aplauso;
sempre a alma insatisfeita,
curiosa e por fim não convencida,
lutando hoje como sempre,
batalhando como sempre.

manhã sem outono

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mantenha os olhos abertos
nas trevas desta manhã
e silencia o grito impensado,
aquieta a cabeça e ouça:

os rumores lá fora dizem que
não há mais esperança ou nuvens,
mentiras renovadas no bairro,
meninas correndo de medo

de um tal homem perverso,
de um bebê abandonado,
de outro dia que ameaça chegar,
o distante badalar da capelinha.

as trevas ainda permanecem
sobre as rugas de teu rosto
tão jovem cansada, tanto tempo,
querem os olhos ver mais (?)

o indefinido suspiro no sótão,
a silhueta no umbral da porta:
os vizinhos? estranhos? viajante?
ou o homem perverso, o tal?

balança a velha cadeira que range
como os pensamentos envilecidos,
como a mandíbula roendo unhas:
tudo inútil, vão, diz o pregador.

conforme-se, então, com o dia sem luz,
de porta entreaberta, sopro de vento
na cortina que esconde aranhas,
na poeira que conta abandono,

sorrindo a alegria só de memória,
tão encardida quanto a saia.
os pés frios, as mãos trêmulas:
não haverá outro dia assim.

(scs, 4912)

recomeço

numa noite, um passo
num amor, a decisão
no encontro, o um
num beijo, o compromisso
num gesto, o desejo
num pedido, o recomeço
na fraqueza, pede-se força
no desejo, a incapacidade
em dois, o novo um
novas noites, novos beijos
novos gestos, mesma incapacidade
recomeços, sempre o começo
de ternura, de entrega
de um, amor, decisão

(mc, 18129)