Nasci há
50 anos.
Não tenho
50 anos,
não tenho
nenhum deles.
Gastei-os.
Passaram.
Foram-se.
Tenho apenas,
sou apenas,
resta-me apenas
o que fiz
dos 50 anos
que me foram
emprestados.
(scs, 141212)
A palavra é tanta que faz a alma ser muitas
Nasci há
50 anos.
Não tenho
50 anos,
não tenho
nenhum deles.
Gastei-os.
Passaram.
Foram-se.
Tenho apenas,
sou apenas,
resta-me apenas
o que fiz
dos 50 anos
que me foram
emprestados.
(scs, 141212)
Sempre a indesencorajada alma do homem
resoluta indo à luta.
(Os contingentes anteriores falharam?
Pois mandaremos novos contingentes
e outros mais novos.)
Sempre o cerrado mistério
de todas as idades deste mundo
antigas ou recentes;
sempre os ávidos olhos, hurras, palmas
de boas-vindas, o ruidoso aplauso;
sempre a alma insatisfeita,
curiosa e por fim não convencida,
lutando hoje como sempre,
batalhando como sempre.
tão longe nadou,
tão fundo expirou,
tão louco sonhou,
tão claro brilhou,
tão manso tocou,
tão tonto ficou,
tão cedo matou,
tão surdo falou,
tão crente orou,
tão perto fungou,
tão terno chorou,
tão forte cantou,
tão rente voou,
e, ainda assim,
morreu
tumba
vazia,
morte
vencida,
nova
vida
tão
intensa
a
vida
e
imensa
Nasci no milênio passado.
Nasci no século passado.
Já passei por cinqüenta décadas.
Já vivi meio século.
Já estou aqui há um vigésimo de milênio.
E quanto ainda há por viver,
passar,
estar!
(scs, a ser escrita em 21113)
a vida corria
tranqüila
e a menina corria
atrás dela
aflita
(scs, 13912)
mantenha os olhos abertos
nas trevas desta manhã
e silencia o grito impensado,
aquieta a cabeça e ouça:
os rumores lá fora dizem que
não há mais esperança ou nuvens,
mentiras renovadas no bairro,
meninas correndo de medo
de um tal homem perverso,
de um bebê abandonado,
de outro dia que ameaça chegar,
o distante badalar da capelinha.
as trevas ainda permanecem
sobre as rugas de teu rosto
tão jovem cansada, tanto tempo,
querem os olhos ver mais (?)
o indefinido suspiro no sótão,
a silhueta no umbral da porta:
os vizinhos? estranhos? viajante?
ou o homem perverso, o tal?
balança a velha cadeira que range
como os pensamentos envilecidos,
como a mandíbula roendo unhas:
tudo inútil, vão, diz o pregador.
conforme-se, então, com o dia sem luz,
de porta entreaberta, sopro de vento
na cortina que esconde aranhas,
na poeira que conta abandono,
sorrindo a alegria só de memória,
tão encardida quanto a saia.
os pés frios, as mãos trêmulas:
não haverá outro dia assim.
(scs, 4912)
Sentei-me ao lado do velho desconhecido na praça: “Me conta numa frase tudo o que você sabe da vida”.
numa noite, um passo
num amor, a decisão
no encontro, o um
num beijo, o compromisso
num gesto, o desejo
num pedido, o recomeço
na fraqueza, pede-se força
no desejo, a incapacidade
em dois, o novo um
novas noites, novos beijos
novos gestos, mesma incapacidade
recomeços, sempre o começo
de ternura, de entrega
de um, amor, decisão
(mc, 18129)