Manhã

Ela acordava sempre profunda, solene, vendo
o que havia sob.
Pressentia invisíveis superfícies, arranhadas
de poeira cotidiana, uma falsa paz,
o silêncio corrompido de tédio e omissão.

Não.

O modo outro é que tinha de ser,
a revolução, o confronto de nariz na parede
– o sangue a escorrer impoluto, arrastando
verdades dores libertação espelhos –
resgatando dos escombros a vida
desatinadamente necessária
disposta a mais um dia

(scs, 18215, 33 anos depois)

lá fora

a chuva está voltando: lá fora um vento diferente na tarde melancólica
eu tomando chá – não dos mais saborosos – com stévia
assobiando aqui dentro aquela música do kraftwerk
uns tantos dias nunca existidos acontecem agora, à tarde, loucos
nem arrancados, vindo como mero rio, me and you
e quase já era nunca mais, desesperançado
alegria solta, pandorga, folha arrancada pela brisa
alento

(scs, 22414)