sono

era tranqüilo o sono embalado de silêncios
no calor tênue daquela manhã sem esperanças

revia tantas lembranças escondidas nas pálpebras
e fazia maior seu desejo de voar sem fim

os sonhos se desfaziam em outros sonhos
tingidos das cores todas de seu coração nômade

acima das nuvens no profundo abismo em ilhas distantes
não era ninguém e era apenas tudo que não via

era feliz o sono enfeitado de sussurros
nos corredores inexistentes de tantos mundos

não queria acordar não sabia mais sofrer
inexistia em tantos/nenhum lugar – vivia

a mão fria o sorriso inerte os olhos
que viam muito mais

fechados

Entre o sono e sonho (Fernando Pessoa)

Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

(fonte)