o som da onda
beijando a areia,
sussurrando-lhe sua paixão,
acaricia o coração triste
de lembranças cinzas
e sons de desgosto,
embala seus cabelos
como carinho de mãos suaves
que amparam e revigoram.
o som da onda
maculando o silêncio profundo
da noite sem estrelas
repete as palavras de amor
um dia rascunhadas em suspiros
e arranhadas na areia e na pele
como confidências imaturas
— não havia ainda limo nas pedras
nem nuvens ocultando a vida,
como promessas falsas
que não resistem ao tempo,
que não têm os pés sobre uma rocha,
inertes como o tronco caído
no qual cresce o musgo macio
no qual a vida se nutre da morte
na intensidade vermelha do sangue
— mesmo que o pulso agora silente
nem mesmo saiba o que amou
era, então, apenas um som
do mar
sem mais cor ou aromas
sem a presença das duas almas
sem o tremor tímido da presença do outro.
vão e vêm as ondas,
o som do mar se vai sumindo
já foi, e nunca foi, aquele amor
que, um dia, molhou a areia
e sorriu ao contemplar o mar.
(sa, 1412)