Perdeu as chaves. Procurou no Google. Dormiu na rua. Morreu de frio.
sem título
Eu gostaria de nunca mais acordar.
Não, não morrer:
sonhar!
cena
vinte anós após o outono
o relógio bateu de novo
na sala, sob o lençol branco,
agitando as folhas no quintal,
acordando a velha sem braços
na cadeira de balanço.
o crochê repousava em seu colo,
a teia de aranha pendia da agulha:
ela sorriu sem dentadura
de saudade da morte.
(scs, 11512)
!
Ah! E não posso esquecer
que foi naquele dia
que Maria morreu!
Acordou feliz e sorria,
cedo ainda, escuro como breu,
mas foi naquele dia
que Maria morreu!
63
conformada,
a
flor
se
deixa
arrancar
Promessa
A velha cancerosa
fuma fede
fala alto tosse
sangue.
Parece não ter medo da morte.
Pelo contrário,
sente saudade dela,
que a deixou logo na infância desnutrida.
A velha doente
acalenta a esperança
num cigarro após o outro
de que a morte logo cumpra
a promessa
de levá-la –
feita há tanto tempo.
Tosse fede
sangue
(scs, 31811)