menino
testemunha
palatar
de
um
creme
um menino e outros
do telhado
um menino sentado vejo outros
meninos sentados em tantos
telhados
das poucas tantas casas do mundo
olhando
o horizonte sem esperança nos sonhos
alegres dos meninos penso
no que vêem do telhado cada um
sob o céu escuro da cidade já dormindo
e triste canto
em voz baixa
com medo de acordar os outros meninos
em distantes telhados cada qual
um rascunho de gente
e já tão gasta e sem sorrisos
o canto some
e fica só a noite derramada sobre
os telhados e os meninos
que vão se apagando aos poucos os tantos
como as estrelas engolidas pelas nuvens
e silenciam
seus sonhos coloridos sobre as casas sem cor
e em cada telhado
repousa só um corpo magro que não canta mais
um menino
(scs, 71213)
cadeias
Há tantas palavras aqui
aprisionadas
que, libertas,
incendiarão o mundo ou
apenas afagarão
um menino.
(scs, 27412)
as moedas e o luar
um menino só
que nunca viu o luar
é esquecido na praça
e nunca mais o procuram
o menino encontrou
na praça duas moedas
e sonhou ser um rei
com um tesouro que lhe comprava
o luar. naquela noite
a lua surgiu, e as moedas
no bolso abrigadas na mão:
o rei não podia comprar a prata do céu.
o menino só, que agora viu
na praça o luar e as moedas,
sentiu-se amado e sorriu desconfiado
de que teria de acordar.
(livremente inspirado na criança que não é criança e que não está viajando só neste ônibus; sp, 16112)
Um menino
um menino caminha sozinho
é só um menino
num vasto e sombrio caminho
é um menino só
ninguém há com o menino sozinho
ninguém caminha com ele seu caminho
só o menino
segue
um menino só
só ele e sua solidão
(mc, 979)