mesmo agora,
escura madrugada,
pressinto ouvir
chegando doce
amada
quantos
quantas coisas a noite esconde
em meus braços frios
nos pensamentos sem fim
confinado na estrondosa solidão desse quarto
quantos segredos espalhados pelas paredes
vislumbrando aquele passado já não mais inventado
de desenhos na areia do mar
um repentino aceno e o fim
quantos momentos aprisionados no relógio parado na cabeceira
gritando sua inexistente presença e dor
em cada conflito refeito e os medos
ainda mais meninos e não os há
– só as pegadas indistintas no pó
quantos carinhos amordaçados nos cabides
entregues ao desprezo e ao vazio
tantas manhãs de outrora: eram luzes
nem deles memória nem saudade
quantas madrugadas de anseios recatados
debruçadas na janela fechada
as nuvens distantes flertando com o desespero
refrescam seus cabelos de cinzas e remorsos
quantos outros navegam a mesma alma
ao revirar das lembranças desgovernadas
– a goteira é o único som consolador
na estrondosa solidão desse sonho inquieto
(scs, 8815)
sem título
uma madrugada
morna
vive em mim