Caixas e caixinhas (IR, semi-heterônimo de Isabel Rosete)

Pensei em seguir viagem,
Mesmo não sabendo para onde quero ir.
Viajar é preciso!
O caminho de agora já não é o meu caminho.

Estou cansada destes cantos e recantos
Onde me afundo, todos os dias,
Nas gavetas do meu Pensamento
Com os ferrolhos da Imaginação,
Em tantas outras gavetas
Onde mora, aberta, a minha Emoção.

Abri os armários da minha Inquietude,
Em trajes vários;
Abri as caixas e as caixinhas
Dispostas, com precisão,
Na ordem das cores.
Mas, há sempre uma gaveta desarrumada,
Aquela onde está depositada
A Desordem da Ordem da minha (des)arrumação!

Preciso dela, ali,
Com objectos vários,
Sem nexo (aparente) entre eles,
Sem comunidade de essência,
Remexidos, sempre remexidos, em con-fusão.

Arrumo-me na minha des-arrumação
De obsessão de organização,
Viajando nos contratempos da des-ordem ordenada;
Consumo-me em pormenores
De formas e cores, em alinhamento.

Mas, há sempre a gaveta desarrumada
Nesses cantos e recantos do meu coração cansado
De fortes sentires indignados.

Passo pelas viagens em sonho viajadas
Na vigília do sono que não vem
Porque arrumar é imperativo.

IR
Ílhavo, 24/02/2013
Pintura: Magritte