Orvalho

a precisa dor
que ignora
a dor de não ser
no olho que foge
à luz
ao tato
então, no rosto se espalha
o vazio
da surpresa da ausência
e não há o que ver
não há alguém
e permanece essa lacuna
crescente
nas entranhas
no lábio rasgado
o vigor se esvai
em sangue e acenos
suspensos

só um remorso
como orvalho que se evapora
cobre o corpo
inerte
pela dor e sonha
revira-se na solidão
e no ar pesado
do olho foge a luz
no rosto permanece a lacuna
do lábio beijado
suspenso
que ignora a dor
precisa
a ausência crescente
e o tato vazio
o consome
e orvalho se vai
não ser

só resta um corpo
inerte
na solidão

(scs, 21211)

vertigem

não te sei do olho senão a vertigem
onde te penso noite
a fina e epidérmica fuligem
consome qual açoite

e não mais te vejo senão em saudade
como a bruma que passa
roçam as mãos e ferem-me com maldade
fica o riso sem graça

nem mesmo canto minha dor no lago
não ouço o calmo jardim
falta o torpe laço e o afago
sem perfume a aurora e o jasmim

(sc, sd)