mais finito

depois, acenou com amor
uma despedida sem fim
enquanto o ônibus sumia na estrada

permaneceu como se seu olhar
pudesse trazê-lo de volta estar com ele
e já era só uma estrada vazia

e a vida agora era vazia
de uma saudade dolorida dos abraços tantos
e do abrigo entre eles
de promessas impossíveis
– mas o que importava eram só eles dois

então: veio a despedida
e ela ali acenando a quem já não havia
um coração desfalecido
a vida desocupada de razão
– tudo parecia mais finito que a estrada
infinita que os distanciava

– Mãe, vamo pra casa! Tô cansado…

não era possível viver de outro modo

(sc, sd)

soneto do sono perdido

a última alegria que guardo
é da triste despedida
e, depois, a viagem incerta
tão imensa

na escura noite de solidão
a lua prateada me era por única companhia
na multidão que também ia
sem saber

nem me deixei chorar
de risos tantos que nunca tive
na plena felicidade que agora
era nunca mais

à noite, acordado no quarto frio,
abraço a lembrança em torno do travesseiro
e não sei mais se vivo ou desisto
de sonhar

(scs, 141216)

despedida

nenhuma outra angústia
em teu olhar
jamais foi tão terna e suave
como a do dia de cabelos ao vento,
imersos em solidão
pensávamos em outro tempo:

uma nova brisa quando no começo
a saudade inexistiu
e os desenhos no ar eram tão pequenos.
eu e tu,
imersos no desconsolo,
fervorosamente inertes, e o chá
esfriava;

mesmo assim sentíamos a mesma dor
estranha, na pele, na íris –
e já era lembrança
na neve, nas folhas secas,
em tuas pegadas sobre as pedras.
a luz se refletia nos meus olhos cerrados,
espalhando um aroma que
outro dia esteve em nossa pele
e naquela flor à luz de velas.

agora só há essa indefinida presença
de um nada afável,
e, então, de novo,
a despedida.

(scs, 9512)