aldravias

Conheci recentemente o Jornal Aldrava e a nova proposta de forma poética (a aldravia) que ele propõe. Encantei-me de imediato. É um desafio imenso poetar com seis palavras, dando a elas conteúdo, forma, sentimento, imagem, fluidez…
Aventuro-me aldravianeiramente desde então. Nas próximas publicações, aldravias (identificadas apenas por números).
Um poético 2012 a todos.

garden

à shan

Te olhei e,
então,
te vi.
Estavas tão linda!
Sim, como estavas de tal modo
linda!
E por um instante o tempo parou séculos
parado também a ver
como estavas linda!
Mas o tempo não voltou…
não posso mais olhar para outras manhãs
e te ver em outras manhãs
em outros jardins
em que também estavas
tão linda!

(sn, 031211)

à noite

não sei imaginar o fel
na dobra da pele
ou o rancor que não fere
ao contemplar os olhos vazios

mas há descaso no vento
e nas mãos que não querem ondas,
somente desacenos cínicos
outrora pássaros de asas duras

o que persiste ainda almeja
a manhã sem orvalho e ninho,
permeado de sonho e fastio,
firme, ainda que inconstante o pesar.

e adormece, sem cobrir o torso,
nos musgos que fumegam à noite.
a canção do tempo perdido embala o sono
e a chuva fina faz tudo findar