ah, filhos

a kairós, talita e calebe

filhos, ah, filhos!
há tanto tempo estão comigo
e tão pouco tempo
com vocês passei
e era tão pouco o pouco
que me pediam

podia? sim!
filhos, ah, filhos…

há filhos por todos os lados,
uma multidão deles
pelos cantos
entrando pelas frestas
esgueirando-se pela fechadura
são muitos, centenas
de vozes e opiniões e risos e desenhos e conselhos
dezenas são
eles três

ah, filhos… concebidos com carinho
desnutridos deles
ainda há tempo?

a filhos se deve tempo —
todos eles são filhos únicos
cada um é o mais velho
cada um um universo múltiplo, complexo, único
divertido —
de presença, de silêncio, de olhar compreensivo
de olhar cúmplice
tempo de não deixar o tempo passar
sem marcas
sem coisas inesquecíveis
sem fotografias impressas na alma

ah, filhos!
todos os tantos que são
nos poucos que são:
quanto já andaram
quanto já se tornaram
quanto já não são mais a última vez que os (ou)vi

e já são tão mais eu e ela
e tão mais eles mesmos
com erros novos, inéditos
e dores de família
e angústias na alma pequena
e segredos que mamãe não pode mais saber

e por isso quase os desconheço
como se não houvesse neles minhas entranhas
minha alma, meu hálito

e tudo isso aconteceu
em tão pouco tempo
no tanto tempo que se passou

ah, filhos!
podem me perdoar
o modo ainda por descobrir
de amar vocês?

(scs, 310110)

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