a rosa

era uma rosa
nem a mais bela entre muitas rosas
mas era aquela, a deleitosa
de perfume desbotada
pétalas maltratadas
sedenta
– que ao amor afugenta –
nem a mais cobiçada
nem outra rosa
mas aquela, feiosa
a que escolhi
a que me escolheu
– ao vê-la, desvaneci
a angústia que era eu –
a que se desencantou
a que me enterneceu
àquela a quem meu coração falou
como nunca falou a rosa alguma

de coisas tristes
de meros e amores
de alternativas loucas
do sorriso que espuma
de dedos em riste
de noites e flores
de angústias tão poucas

falamos madrugada afora
reinventando os sonhos da não-manhã
as pétalas tão pouco viçosas
se alegravam como se houvesse orvalho
nosso silêncio, de uma paixão sonora
com as mãos de inventada tecelã
bordava eternidades na langorosa
flor, sem sombras nem farfalho

e aquela rosa
não a mais assombrosa rosa
ouviu-me com sua atenção de pétalas
e tocou-me
com sua ternura de espinhos
no canto do jardim onde sozinho
ela amou-me
confessando seus segredos de pérolas
ela, que já não era flor medrosa
ela, a única e sempre rosa

(scs, ?,21918)

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