cena

vinte anós após o outono
o relógio bateu de novo
na sala, sob o lençol branco,
agitando as folhas no quintal,
acordando a velha sem braços
na cadeira de balanço.
o crochê repousava em seu colo,
a teia de aranha pendia da agulha:
ela sorriu sem dentadura
de saudade da morte.

(scs, 11512)

tímida

não olha agora,
mas estou olhando
pra você.

não ouça agora,
que digo sem voz
que te amo.

não se vire agora,
que, aqui longe,
afago teu cabelo.

não sorria agora,
que meus lábios
beijam os teus (queria tanto).

não deixe de ser assim,
um amor distante,
nunca-será-meu.

só me deixe,
agora e todo dia,
te amar assim,
tímida.

(scs, 10512)