lá
fora
frio
aqui
dentro
vazio
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lá
fora
frio
aqui
dentro
vazio
paisagem tardia
Sentado na ampla varanda do apartamento
— muito grande, bem mobiliado,
com vista para tantos outros prédios
de apartamentos vastos,
que conseguem abrigar vastas solidões,
grandes famílias de pessoas desconhecidas —
olhava para o céu poluído,
sem pássaros,
arranhado pelo barulho de buzinas e mortes,
de crianças no parquinho de cimento-sem-árvores,
um céu sem nuvens, só fumaça, cinzento,
como a vida nos vastos apartamentos.
Levou a xícara de café frio e amargo aos lábios.
Sentiu gosto de fuligem, da vastidão do frio,
dos lábios que não estavam.
Parou o gesto no ar
sem pássaros, sem paixão.
A xícara tremeu um pouco
e foi descansada na mesinha sem pires.
Não havia mesinha nem pires
para um céu tão triste
e um vasto vazio tão amplo.
Só restava fechar os olhos
e esperar
(scs, 4612)
aceno
nunca tentou compreender
a despedida,
nunca perguntou, inquieta,
a razão,
nunca confessou raivosa
a surpresa.
apenas permaneceu com o aceno vazio
no ar,
um aceno eterno,
um adeus perene
sem razão.
(scs, 10512)
sem título
nem sempre há razão
na dor ou no vazio
que habita o olhar, a mansão,
que produz em lágrimas um desvario
(scs, 11212)