à Shan
eu poderia te beijar
pela primeira vez
por mil noites
A palavra é tanta que faz a alma ser muitas
à Shan
eu poderia te beijar
pela primeira vez
por mil noites
casaram de papel passado
vestido amassado
terno emprestado
padrinho enciumado
sogro endividado
natal adiado
irmão desconfiado
padre apressado
bolo confeitado
patê salgado
retrato antiquado
suco arrotado
baile agitado
avô desdentado
coração dilacerado
primo desgrenhado
choro encomendado
ridículo filmado
passeio parcelado
vento inesperado
hotel meio acabado
quarto mofado
lençóis manchados
beijos apaixonados
abraços demorados
amor desfrutado
sussurros gritados
risos cortados
corpos emaranhados
demorado, demorado
sono relaxado
dia ensolarado
casal no quarto trancado
o amor, tão sonhado,
no terno amassado,
no lençol amassado,
no beijo manchado,
no abraço inesperado,
no mundo lá fora mofado,
meio acabado,
e o que importava
é que nada mais importava
(s, 27912)
voz tão suave
urrava de dor:
tanto te amei!
delícia de sabor
carícia de amor
malícia com pudor
vivo tanto
de tanto
morrer
de amor
mesclei,me
contï^go
uni-dos
amor~amor
delííc;ia
DE:liran:TE
à Shan
não, eu voltei
de tanto ver-te
fascinado
e agora continuar
envolvido em deliciar-me
apaixonado
não, eu fugirei
pra ti mesma toda
aprisionado
(scs, 25813)
1
abrem-se
convictos
da
manhã
que
surge
2
vagueiam
cheios
de
respostas
sem
perguntas
3
olho
e
vejo-te
olhas-me:
não
sei
4
olhos
nus
olhos
nos
olhos
nós
5
na
janela
que
me
vê
vejo-me
6
te
vejo
em
meus
olhos
tristes
5
mergulho
em
teus
olhos:
afogo-me
águazul
6
e
tão
tonto
tento
então
rever-me
7
olhares
que
fogem
maltratados
de
abandono
8
os
OlhOs
Olho-Os
vazi0s
num
s.i.l.ê.n.c.i.o
9
insisto:
olhe-me
como
outro
que(m)
sou(?)
10
(temo
olhar
e
de[ver]
te
amar)
11
“nunca
vi
ninguém
assim!”
ah,
sim…
12
– vi-me:
a
dor
ampla,
nunca
vista
13
antevejo
meus
olhos:
lágrimas
e
ninguém –
14
olha-me
com
outros
olhos:
os
teus
15
meus
olhos
leais
lamentam:
não
mais
16
vejo-te
como
nunca
– e
sempre
foste
17
vemos
o
que
vi(fo)mos:
foi-se
insaudoso
18
vemo-nos
como
de
novo
primeira
vez
19
invisível
ah!
mar
de
amor
– olhares
20
cúmplices
mãos
dadas
vamos
vemos
somos
lembro-me de não te
ter visto ainda
assim tão bela
lembro-me de não me
saber assim tão
apaixonado e livre
lembro-me de não haver
nascido um amor tal
como hoje, sublime
lembro-me de não ter
tocado pele assim tão
macia e terna
lembre-me de não me
despertar
(scs, 10913)
não dormia mais
ou, se dormia,
não mais sabia
se sonhava ou
se o via
nem se cansava
de esperar na janela
o tempo que demorava
para ele aparecer
e, quando vinha,
o tempo não demorara tanto
e passava tão rápido
que nem parecia ter vindo
não precisava mais respirar
– pensava ela –,
só sentindo, à luz da janela
o perfume dele no ar:
doce cítrico ingênuo só dele,
com um sorriso maior
que o rosto
– e por nada mais tinha gosto
não se sentia mais só,
nem no final da tarde
nem ao visitar a avó,
sabia sentia que ele estava por ali
naquele ventinho suave a balançar a cortina
na voz que a fazia mulher-ainda-menina
no olhar que no coração sorria
– e ele nunca soube que ela existia.
(scs, 301212)