saudade
Aos que são
e brota
uma saudade frondosa
de qualquer
minúscula semente
de distância
lançada ao vento do aceno
molhada naquela lágrima engolida
(scs, 61215)
De onde sentado, no ônibus, observo
a paisagem no fim da tarde
é de rostos cansados
inóspitos
imensas solidões e
eternas amizades
lista de por-fazer
angustiosa volta ao lar
de ônibus e seus estranhos
ruídos de motores e suspiros
sono encostado no vidro
a longa despedida para tão-breve
placas luzes grafites cores muros gatos náusea
vinda de desabafos à luz miúda
de pequenas imoralidades
o outro ser fingido real na tela do celular
um estranho lá fora – e outro aqui dentro
com a pressa de cerrar portas
sombras frias esgueirando-se nas esquinas
em pés descalços preguiçosos
o copo de esquecer-se
e a criança quer continuar brincando
(foto de Corinne Béguin)
a modernidade dos tempos
ônibus:
fale com o motorista
apenas o indispensável.
carro do google:
motorista,
você é dispensável.
bom mesmo era ir de mãos dadas
com meu pai
para a escola
Aldravia na televisão
O aldravismo é, agora, um movimento artístico amplo, indo além da poesia. Assista esta matéria da rede Globo sobre o assunto. Uma aldravia minha aparece por volta dos três minutos.
Sucesso aos colegas aldravianistas.
ele e ela
o
casal
conversava
com
silêncios
eternos
o
casal
silenciava
as
conversas
(con)(a)vulsas
o
casal
sofria
em
silêncio
altivo
o
casal
conversava
com
esquivos
silêncios
o
casal
sentia
silenciar
suas
conversas
o
casal
contemplava
o
silêncio
fortuito
o
casal
soluçava
seu
silêncio
solitário
o
casal
inexistia
lado
a
lado
ele
era
ele
ela
era
nunca
ele
(s)em
remorsos
ela
(s)em
lágrimas
ele
sempre
ausente
ela
sempre
amanhã
ele
mesmo
ali
era
um
vazio
ela
mesmo
não
sabia
ser
mais
um
casal
se
desconhecia
ao
amanhecer
o
casal
remoía
os
lúgubres
silêncios
ele
só
momentos
ela
sempre
esperança
ela
silenciava
ele
silenciava
solidão
gritava
ele
ela
o
casal
nenhum
deles
ele
um
dia
sorriu
ela
corou
os
dois
conversavam
com(o)
cúmplices
silêncios
sem título
eu li tuas letras
arranhadas na areia
úmida das lágrimas do mar
de teus olhos:
tantas de um só amor
tantas de só amar
sem título
teu silêncio
assim assustado
me cansa
de dizer coisas sem nexo
ouvidas sem querer
em ventos e sombras
porém, é mesmo preciso
que gritos passageiros
me despertem anseios
e voltem a ser mentiras
abandonadas sem ternura
e teu silêncio
assustado
permaneça belo e cansado
sem mim
desperdiço-me no vento
sem rumo no meio da noite
espantado com o silêncio que me fiz
entre pedras e sobressaltos
mesquinhando o abrigo e a sensatez
envolve-me uma dormência de festa
mexendo em minhas mãos um carinho impróprio
mas não me deixa suspirar, voz arrancada,
em busca dos passos há tanto esquecidos
no caminho que passa por mim
a formidável aurora convida a esquecer
uma tola felicidade de tantas pétalas
e me desperdiço de novo na chuva morna
cansado de não saber
e ainda assim esperar
(scs, 18614)
de sonho
em meio à madrugada
um sussurro arrastado lhe chegou
de olhos arregalados
sugerindo amores em nuvens
despertou
a solitária escuridão morna tudo cercava
e o silêncio
voltou a dormir
e então o sonho acabou
(scs, 13115)