Nada

não conheço a serenidade
de teus ouvidos
ou a tristeza
de tuas mãos
ou a saudade
em teus olhos
ou a loucura
em teus acenos
ou a modéstia
em teus cabelos
ou as angústias
em teu ventre
ou a melancolia
em teus lábios.

nada sei de ti.

(scs, 4511)

Nunca mais

eu reencontrei um sorriso
no meu rosto
desnutrido, esquecido
quase irreconhecível

tomei-o com cuidado,
temeroso de quebrá-lo
fiz-lhe respiração boca a boca
molhei seus lábios com chuva

ele se contorceu um pouco
– parecia sentir dor –
tentou balbuciar qualquer coisa
– seria uma despedida

ou uma canção de amor? –
mas não pôde, não quis
ocultou-se de novo
e nunca mais o vi.

(scs, 29511)

Brasa

Teu sorriso nasceu
antes do Sol,
mas eu não vi.
Tua mão lançou
sementes à estrada,
mas eu não sorri.
Tua risada alegrou
a tarde oculta na névoa,
mas eu não quis desfrutar.
Teus cabelos agarraram
perfumes e flores do bosque,
mas preferi esquecer.
Teus sonhos cantaram
sobre um lago e seu luar,
mas eu ignorei.
Teus olhos brilharam
com as nuvens e os ventos,
mas eu me magoei.
Teus suspiros celebraram
a brasa e o calor à noite,
mas eu fugi.
Teus passos te levaram
para sempre para longe,
então, eu me arrependi.

(sp, 19611)